Jogo eleitoral será na região metropolitana, dizem analistas ao EXAME Política

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 (Paulo Whitaker e Rodolfo Buhrer/Reuters)

A eleição de 2022, que tem como fortes candidatos nas pesquisas o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá ser decidida nas regiões metropolitanas, projetam o cientista político Jairo Nicolau e o CEO da empresa de pesquisa Idea Big Data, Mauricio Moura.

Bolsonaro, que venceu a eleição de 2018 com um eleitorado concentrado principalmente nas grandes cidades e capitais do país, agora tem as regiões metropolitanas como principais fontes da rejeição recorde que enfrenta em seu mandato, segundo a última pesquisa EXAME/Ideia divulgada na sexta-feira, 23. A impopularidade do presidente que atingiu 54% se concentra principalmente em grandes centros metropolitanos, como as capitais dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, destaca Moura.

“Nessa nova configuração, Bolsonaro pode estar sendo empurrado para as cidades médias, o PT deve ser manter nas pequenas cidades, sobretudo as nordestinas, e talvez o jogo eleitoral de 2022 seja nas regiões metropolitanas”, afirma Nicolau. Moura também projeta o cenário a partir do resultado das pesquisas: “A batalha eleitoral vai ser na região metropolitana”, reiterou no último episódio do podcast EXAME Política (ouça abaixo na íntegra)

O fundador do Ideia atenta para o fato de que a população que hoje declara voto em Lula é constituída por uma combinação de segmentos de renda mais baixos, que têm na gestão do ex-presidente a memória de prosperidade econômica, e parte da classe média urbana com maior escolaridade.

Segundo ele, Lula ainda não penetrou em segmentos da classe média das regiões metropolitanas, onde há espaço para disputa e para o crescimento de um eventual terceiro nome na disputa eleitoral.

Efeito pandemia

Para a eleição, Jairo Nicolau avalia que o contexto da pandemia que segue ditando os rumos do país pelo segundo ano seguido tem potencial de gerar mais perdas do que ganhos para Bolsonaro.

“A oposição tem argumentos bons para usar ao longo da campanha, declarações, elementos que vão ser capturados agora na CPI. Nesse aspecto, Bolsonaro, ainda que use a tentativa de interpretar os fatos à maneira dele, delegar responsabilidades para os governadores, acho que perde”, afirma.

O cientista político lembra que a gestão do coronavírus pode trazer ônus diversos a líderes de estados a depender do contexto e desempenho dos países na crise. Ele cita como exemplos os casos opostos dos premiês do Reino Unido e da Alemanha.

No caso do premiê britânico, Boris Johnson, o seu partido que foi ultrapassado nas pesquisas de intenção de voto em 2020 pelo líder do partido de oposição, num contexto de atraso da reação governamental à pandemia, recuperou a liderança recentemente depois de uma política de sucesso principalmente na gestão da vacinação.

Já a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, cuja imagem foi beneficiada no início da pandemia pelas políticas tidas como exemplares, viu uma queda significativa de popularidade com a demora da vacinação na Alemanha e crescimento de casos na segunda onda.

Economia no centro

Nicolau e Moura apostam, no entanto, que a pandemia não deverá ser a tônica da eleição de 2022. O ponto central para a campanha presidencial deverá ser a economia, avaliam os analistas. “Assumindo que teremos uma melhora da pandemia, defendo a hipótese de que a eleição de 2022 vai ser a mais importante em termos de economia desde 1994”, afirma Moura.

 

 

Com isso, o presidente ainda tem chance de fazer frente a outros candidatos caso uma recuperação econômica comece a se desenhar a partir do segundo semestre deste ano.

Nesse contexto, avalia o especialista, Bolsonaro pode não conseguir, como fez em 2018, se apoiar na promessa de que trará uma economia mais liberal. A avaliação sobre o presidente na área pode se concentrar na sua atuação e realizações durante o mandato. “A economia é um tema que o presidente não consegue terceirizar. Ele fez um belo esforço de terceirizar o tema da saúde com governadores e prefeitos, mas a economia está muito associada ao presidente.”

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